Nos últimos 15 anos, o golpe de 31 de março de 1964 e a ditadura têm sido alvo de intensos debates acadêmicos, mormente sobre o próprio caráter da estrutura ditatorial e os segmentos sociais que a apoiaram, assim como os usos políticos do passado e as disputas de memória que ganharam espaço na cena pública brasileira recente.
Nesse mesmo período, é possível observar um aumento significativo de novos temas e abordagens, muitos dos quais relacionados ao direito à memória, à verdade e à justiça. Ocorreu também a ampliação do diálogo internacional, com perspectivas comparadas e integradas com países da América Latina, através da formação de redes de pesquisas; do acesso a arquivos estrangeiros, como os estadunidenses e europeus; e, mais recentemente, de novas parcerias com os países africanos.
A Lei de Acesso à Informação e a lei de criação da Comissão Nacional da Verdade, ambas assinadas pela presidenta Dilma Rousseff em 18 de novembro de 2011, foram propulsoras de reflexões sobre temas aparentemente consolidados e do surgimento de outros que até então estavam às margens da historiografia. Nesse sentido, os projetos sobre indígenas, negros, mulheres e grupos LGBTQIAP+ constituíram um elemento fundamental nesse novo cenário das pesquisas sobre a ditadura.
Os 60 anos do golpe é uma efeméride, uma data convocante para a sociedade refletir sobre o passado e sua repercussão no presente. O dossiê “O impacto do golpe e da ditadura no Brasil: 1964-2024” reúne artigos que abordam essas mudanças historiográficas e contribuem para o debate público sobre o impacto do golpe e da ditadura na história do Brasil. As editoras do dossiê são Lucia Grinberg, professora associada de História do Brasil da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), e Samantha Viz Quadrat, professora associada de História da América Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF).
