Acervo, Rio de Janeiro, v. 35, n. 1, jan./abr. 2022

Perspectivas em humanidades digitais | Artigos livres

Inventário compartilhado sobre as ações educativas e culturais do Museu da Vila

Dados e conhecimentos de uma pesquisa-ação

Shared inventory on the educational and cultural actions of the Museu da Vila: data and knowledge of an action research / Inventario compartido sobre las acciones educativas y culturales del Museu da Vila: datos y conocimiento de una investigación de acción

Sabrina Araujo Castro

Mestra em Artes, Patrimônio e Museologia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Brasil.

sabrinacastro@ufpi.edu.br

Luciana Conrado Martins

Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil.

lucianamartins@ufpi.edu.br

RESUMO

O texto relata parte de uma pesquisa-ação inserida no Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí e da Universidade Federal do Delta do Parnaíba sobre as ações educativas e culturais do Museu da Vila, no Piauí. Como estratégia metodológica, foi elaborado um modelo de ficha de registro para o preenchimento de informações que foram obtidas de forma colaborativa. Essa pesquisa resultou em um inventário compartilhado.

Palavras-chave: inventário; ações educativas e culturais; Museu da Vila.

ABSTRACT

The text reports part of an action research from the Graduate Program in Arts, Heritage and Museology of the Universidade Federal do Piauí and the Universidade Federal do Delta do Parnaíba on the educational and cultural actions of the Museu da Vila [Village Museum], in the state of Piauí. As a methodological strategy, it was created a registration form model to fill in information that were collected in a collaborative way. This research resulted in a shared inventory.

Keywords: inventory; educational and cultural actions; Museu da Vila.

RESUMEN

El texto relata parte de una investigación-acción del Programa de Posgrado en Artes, Patrimonio y Museología de la Universidade Federal do Piauí y de la Universidade Federal do Delta do Parnaíba sobre las acciones educativas y culturales del Museu da Vila [Museo del Pueblo], en Piauí. Como estrategia metodológica, se elaboró un modelo de formulario de registro para completar la información que se obtuvo de manera colaborativa. Esta búsqueda dio como resultado un inventario compartido.

Palabras clave: inventario; acciones educativas y culturales; Museu da Vila.

Introdução

O Museu da Vila (MUV) fica localizado em uma antiga vila de pescadores e a edificação que o abriga corresponde a um antigo grupo escolar, situado, precisamente, no bairro Coqueiro da Praia, na cidade de Luís Correia, Piauí. Inaugurado em 1º de junho de 2018, o MUV é uma realização do Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), sendo o primeiro polo do projeto matriz desse programa, o Ecomuseu Delta do Parnaíba (Ecomude), uma rede de museus de território.

Sobre o contexto museológico desse equipamento cultural, Áurea Pinheiro (2015, p. 62), subcoordenadora desse programa de pós-graduação, afirma que “o espaço museológico ganha o status de território habitado, com o patrimônio integrado, idealizado com e pela comunidade, um instrumento de desenvolvimento para seus habitantes, um fator de sustentabilidade”. O litoral do Piauí, onde o Museu da Vila desenvolve as suas atividades museológicas, é um território que abriga um rico patrimônio natural e cultural, com um delta em mar aberto e saberes e ofícios relacionados às artes de pesca.

Inspirando-se em Hugues de Varine (2013), o Museu da Vila, em seu fazer museal, privilegia o patrimônio comunitário, aquele que emerge da comunidade na qual está inserido; um patrimônio cultural considerado instrumento dinâmico para o desenvolvimento sociocultural. Dessa forma, os usuários do Museu da Vila são pessoas da comunidade Coqueiro da Praia que frequentam e ajudam o museu em suas atividades cotidianas, incluindo, também, os mestrandos, alunos do citado mestrado profissional, e os discentes.

Esse museu realiza ações educacionais no contato com a comunidade na qual está inserido, adentrando diversos espaços comunitários como a praça e as escolas locais. Em sua atuação educacional, a temática do patrimônio é sempre presente, de forma a dialogar com as pessoas, incluindo crianças, jovens, mulheres, pescadores e educadores locais.

Para essa realização educacional, o Museu da Vila propõe uma ação transformadora e problematizadora tal como foi defendido pelo educador Paulo Freire (2019, p. 94-95):

a educação libertadora [...]. Como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível, em lugar de ser o término do ato cognoscente de um sujeito, é o mediatizador de sujeitos cognoscentes, educador, de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador-educandos. Sem esta, não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível.

Nesse sentido, tanto o educador, quanto os “educandos” são considerados, igualmente, sujeitos ativos da realização das ações educativas. Por isso, no trabalho educacional do Museu da Vila, se busca realizar ações de forma dialógica, participativa e integradora.

Este artigo trata e foi constituído como parte de uma pesquisa problematizada em razão de uma imersão nas ações educativas e culturais do Museu da Vila. Por isso, o texto narra a realização do seguinte objetivo específico: “realizar um inventário compartilhado, a fim de obter informações para criar um registro de memória sobre as ações educativas e culturais do Museu da Vila”. Esse objetivo foi escolhido como o melhor caminho para se construir e selecionar um suporte de informações que possibilitasse conhecer detalhadamente as realizações educacionais do Museu da Vila.

Foi preciso realizar um diagnóstico sobre a atuação educacional do Museu da Vila para iniciar a elaboração de uma política educacional para esse equipamento cultural. Isso aconteceu no momento em que, nacionalmente, ocorreu a implementação da Política Nacional de Educação Museal, a PNEM, instituída pela portaria n. 422, de 30 de novembro de 2017, do Instituto Brasileiro de Museus.

A busca pelos dados informacionais foi colaborativa. Os colaboradores para a realização do inventário foram os mestrandos responsáveis pelo planejamento e execução das ações educativas e culturais do Museu da Vila. Pois, nesse programa de pós-graduação, grande parte dos mestrandos responsabilizam-se por efetivar a prática educacional do Museu da Vila, em suas atividades de estágio obrigatório e nas ações de pesquisas.1

Destaca-se que foi elaborado um modelo de ficha de registro que norteou todo o trabalho de inventariar, cujos itens serviram como critérios para a seleção e controle das informações. Dessa forma, os dados da pesquisa foram reunidos no preenchimento de fichas com informações sobre as ações educativas realizadas no Museu da Vila. Assim, através dessas fichas, foi possível produzir, selecionar e compartilhar conhecimentos.

As escolhas metodológicas

A metodologia escolhida para esta pesquisa segue a proposta de atuação do Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia que direciona os enfoques qualitativos e participativos para as relações do Museu da Vila com a sociedade, assim como direciona as pesquisas e a formação profissional dos mestrandos. Sobre as pesquisas participantes e as abordagens qualitativas, Brandão (2006, p. 51) declara que:

em boa parte das abordagens qualitativas da pesquisa social, eu descubro que sou confiável. Posso proceder assim porque posso confiar em mim mesmo e, não apenas, nos instrumentos que coloco entre eu e os meus “objetos de pesquisa”. Posso confiar em minha memória, em minhas palavras e nas de outros, meus interlocutores. Posso confiar neles “para mim”. Para efeitos dos processos e produtos de um trabalho científico que eu controlo, interpreto e uso a meu favor.

Dessa forma, os relatos de experiências de pesquisa e a colaboração dos mestrandos com suas memórias, opiniões e planejamentos metodológicos foram considerados nesta pesquisa. Da mesma forma, as lembranças, impressões e interpretações da pesquisadora sobre os dados obtidos.

O tipo de pesquisa delimitado para a realização do inventário foi a pesquisa-ação, conforme as ações de pesquisas qualitativas e participantes desse mestrado profissional no Museu da Vila, que visam alcançar resultados transformadores em relação aos patrimônios e aos equipamentos culturais do Piauí. Sobre a pesquisa-ação, Michel Thiollent (1986, p. 14) define que:

A pesquisa-ação é um tipo de investigação social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Conforme citado na introdução, foi necessário buscar informações para se realizar um diagnóstico sobre a atuação educacional do Museu da Vila, a fim de encontrar subsídios para a resolução da problematização geral da pesquisa: construir elementos para a política educacional do Museu da Vila. Por isso, a efetivação colaborativa de um inventário foi a melhor escolha para se encontrar os dados necessários.

Contudo, vale lembrar que, conforme Thiollent (1986), nem tudo o que é chamado de pesquisa participante é pesquisa-ação. Para este autor, em certos casos, a metodologia de observação participante consiste em aparente identificação do pesquisador com os valores e os comportamentos do grupo considerado, em função da busca do pesquisador em ser aceito no contexto social de sua investigação. Para evitar esta situação, é preciso que exista, efetivamente, a participação das pessoas envolvidas no problema sob observação, de forma não trivial.

Para entender melhor: “a pesquisa-ação [...]. Trata-se de um método, ou de uma estratégia de pesquisa agregando vários métodos ou técnicas de pesquisa social, com os quais se estabelece uma estrutura coletiva, participativa e ativa ao nível da captação de informação” (Thiollent, 1986, p. 25). Dessa forma, se entende a pesquisa-ação como uma ferramenta adequada para a proposta de um museu que interliga as suas práticas educativas às pessoas e ao território em que está inserido.

Pela ação colaborativa ocorrida no cotidiano do Museu da Vila é que os dados dessa pesquisa foram considerados como um registro de memória. Dessa forma, considera-se, segundo Maurice Halbwachs (1990), que a memória pode ser individual e coletiva. Interpreta-se que as lembranças e experiências individuais podem interagir com as lembranças de uma coletividade, construindo memórias para um grupo social. Baseando-se nessas noções, entende-se este inventário como um registro de memória coletiva já que o trabalho cotidiano do Museu da Vila tem como foco a interação com as pessoas. Dessa forma, foi considerada a existência de memórias que são produzidas a cada atividade executada no museu em contato com a comunidade. Lembranças que são frutos de uma coletividade, inserida em um contexto de trabalho socioeducativo.

Nesse contexto, buscou-se a inspiração no arcabouço teórico e metodológico de Hugues de Varine (2013) sobre a realização de inventários. Para este autor, o método dos inventários compartilhados inicia com um primeiro levantamento sobre as memórias e práticas do patrimônio local para poder ocorrer, posteriormente, a apropriação, pela comunidade inteira, do todo ou de parte do patrimônio inventariado. Para Varine, no inventário compartilhado devem ocorrer o reforço do sentido de responsabilidade e o reconhecimento das memórias como uma herança comum pela comunidade, sendo que as decisões, as escolhas, a catalogação dos dados do inventário são assuntos dos experts, dos profissionais. O autor cita ainda que, em matéria de inventário, há partilhas de conhecimentos que contribuem para o desenvolvimento local.

O entendimento de Varine (2013) sobre os inventários compartilhados é um modo de tratar e definir informações sobre o patrimônio local de um território. Contudo, o registro aqui tratado corresponde a um inventário de ações educativas e culturais que trabalham com um complexo patrimônio cultural em um museu de base comunitária.

Entende-se, então, esse inventário, como um compartilhamento de saberes e de experiências educativas no qual se pôde visualizar itens relativos às práxis educativas do Museu da Vila. Um inventário sobre práticas educativas, movido pela vontade de aprender e de partilhar conhecimentos.

A construção do corpus

A coleta de dados partiu de relatos de experiências individuais e de conversas informais entre os mestrandos para definir as estratégias de ações metodológicas. Ocorreu, em todo o processo da pesquisa, leituras de textos e a observação participante na execução de oficinas, atividades de estágios e ações de pesquisas dos mestrandos. Também foram realizados o registro das informações em relato escrito mediante o uso de diário de campo e o registro fotográfico da execução das práticas e metodologias educativas. Os relatórios finais de pesquisa e os relatórios de estágio foram elencados como documentos a serem interpretados. Os relatórios finais de pesquisa correspondem aos trabalhos de conclusão desse mestrado profissional cujas pesquisas dos alunos são apresentadas e avaliadas em bancas de defesa.

Dessa forma, conforme a leitura e interpretação do texto de Raymond Quivy e Luc Van Campenhoudt (2005), na publicação Manual de investigação em ciências sociais, esta pesquisa teve como instrumentos metodológicos: a observação direta e participante nas ações educativas e culturais realizadas no Museu da Vila com a descrição e o registro informacional em diário de campo; a recolha de dados documentais em imagens fotográficas e em arquivos de PNG e JPEG, incluindo o compartilhamento de arquivos digitais em Word e PDF para compor o registro e a análise de documentos; e a elaboração e o preenchimento de fichas de registro.

A principal estratégia de recolha de dados informacionais para a realização desse inventário foi a elaboração de um modelo de ficha de registro. Nessas fichas, foram preenchidas informações sobre o planejamento e a execução das ações educativas e culturais realizadas no Museu da Vila. A ficha foi elaborada com base em um arquivo encontrado, em 2019, no site da PNEM, que corresponde a uma ficha para cadastro das ações educativas do Banco de Projetos Educativos da Política Nacional de Educação Museal. A referida ficha foi elaborada ainda durante o processo de constituição da PNEM, quando ainda era entendida como um “programa de educação”.

Em 16 de julho de 2019, ocorreu na Universidade Federal do Piauí, em Teresina, uma palestra de Luciana Martins, educadora, consultora do processo de elaboração da Política Nacional de Educação Museal, também professora orientadora desta pesquisa. O discurso proferido aos mestrandos foi relacionado à importância da PNEM e ao seu processo de constituição.

No dia seguinte à mencionada palestra, foi apresentada, a cerca de vinte mestrandos, a proposta de pesquisa que objetivava a construção da política educacional do Museu da Vila. Foi nessa ocasião que eles viram, pela primeira vez, a necessidade de que viessem a colaborar nesta pesquisa. Os mestrandos atuantes no educativo do museu e os iniciantes nesse programa de pós-graduação mostraram-se curiosos pela temática, em conhecer mais sobre os instrumentos elencados para a busca de dados.

O modelo de ficha de registro enviado aos mestrandos para o preenchimento de informações sobre as ações educativas executadas no Museu da Vila foi o seguinte (Figura 1):

Figura 1 – Modelo da ficha de registro elaborada para o inventário

1. IDENTIFICAÇÃO

1.1 Título do projeto ou evento:

1.2 Tipo de projeto ou evento:

( ) Pesquisa

( ) Visitação

( ) Artístico /Cultural

( ) Formação

( ) Acadêmico

( ) Outro: _________________

1.3 Título da ação educativa:

1.4 Categoria da ação:

( ) Mediação

( ) Curso

( ) Oficina

( ) Aula temática

( ) Roteiro/Visita guiada

( ) Palestra/Conversa

( ) Seminário

( ) Outro: ____________________

1.5 Nome completo dos responsáveis pela ação:

1.6 E-mail dos responsáveis:

1.7 Resumo descritivo da ação:

1.8 Arte de divulgação:

2. PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

2.1 Objetivos da ação:

2.2 Data de realização:

2.3 Periodicidade:

( ) Diário ( ) Semanal ( ) Mensal

( ) Semestral ( ) Anual ( ) Sem periodicidade definida

2.4 Local ou espaços de realização:

2.5 Público alvo:

( ) Escolar: infantil

( ) Escolar: ensino fundamental

( ) Escolar: ensino médio

( ) Professores/Educadores

( ) Terceira idade

( ) Comunidade local

( ) Pessoas com deficiência

( ) Famílias

2.6 Recursos materiais utilizados (equipamentos de informática e audiovisuais, panfletos, roteiros impressos):

2.7 Etapas desenvolvidas (descrição das atividades do desenvolvimento metodológico da pesquisa, como oficinas desenvolvidas):

2.8 Tempo de execução da atividade:

2.9 Métodos e técnicas aplicadas:

3. RESULTADOS E REGISTROS

3.1 Resultados da ação (produtos e serviços):

3.2 Registros midiáticos (fotografias, vídeos, por exemplo):

3.3 Avaliação: ( ) sim ( ) não

3.4 Resultados da avaliação:

3.5 Outras informações relevantes:

Fonte: Sabrina Araujo Castro, 2019.

Logo, através do preenchimento da ficha, foram retomadas trocas de experiências, pensamentos individuais e relatórios escritos pelos mestrandos. Tendo como inspiração o processo de elaboração da Política Nacional de Educação Museal, as informações inventariadas em cada uma das fichas de registro representam um banco de projetos, eventos, atividades, enfim, ações educativas e culturais.

Essa proposta de ficha correspondeu a um modelo padrão, que pôde ser adequado tanto para ser preenchido em relação aos projetos de pesquisa quanto às oficinas, cursos e mediações.

A partir da elaboração do modelo da ficha de registro e de conversas informais com os mestrandos atuantes no âmbito do educativo, foram identificados os endereços eletrônicos (e-mails) e o número usado no aplicativo WhatsApp para estabelecer comunicação. Foi enviado, por e-mail, um arquivo do modelo da ficha de registro em Word, para cada um dos mestrandos identificados como responsável por pelo menos uma ação educativa, como oficina, ou projeto de pesquisa já defendido, que incluía ações educativas no processo de pesquisa.

Juntamente com o pedido de preenchimento, foram solicitadas imagens relacionadas à ação educativa, pois o pedido era para incluí-las como arquivo no e-mail, para garantir a qualidade da imagem. Também foi solicitado, pelo e-mail, o arquivo correspondente ao relatório de pesquisa para aqueles que já haviam concluído o curso, no caso, os mestrandos da Turma 3. Foram solicitados ainda, via WhatsApp e e-mail, os planejamentos e os relatórios de estágios, especialmente para os mestrandos da Turma 4, que foram aqueles que, no ano de 2019, estavam atuando diretamente na realização de oficinas em função dos estágios obrigatórios e de momentos relacionados às suas pesquisas para conclusão do mestrado profissional.

As fichas correspondentes aos relatórios de pesquisas já concluídas foram preenchidas a partir da leitura e do fichamento dos mesmos, em formato de arquivo PDF. Vale lembrar que foram recebidas algumas fichas já preenchidas pelos mestrandos, com informações sobre oficinas, projetos em desenvolvimento e cursos livres.

Em relação às imagens, durante as observações participantes, sempre que possível, buscou-se realizar o registro fotográfico das ações educativas utilizando-se a câmera do celular, o que auxiliou muito na busca por imagens. Quando se observava a necessidade de mais imagens, relacionadas especificamente a alguma ação educativa, solicitava-se o seu envio, via WhatsApp e por e-mail e, dessa forma, os mestrandos foram solícitos, quanto ao envio e à disponibilidade.

Ao final da fase exploratória, foram preenchidas o total de 37 fichas, correspondentes às diferentes ações educativas e culturais desenvolvidas pelo Museu da Vila. Os dados contidos nessas fichas foram descritos detalhadamente e, devido à grande quantidade de páginas de cada uma, as informações precisaram ser sintetizadas.

As categorizações e a sistematização geral das fichas

Após a conclusão do preenchimento das informações, foi realizada a organização sistemática das fichas. Inicialmente, numa visão geral, foi possível identificar que havia o registro de projetos, eventos, oficinas, cursos, ações de mediação, nas ações educativas e culturais que foram registradas.

A organização das fichas partiu da consideração de que existiam projetos já executados, que correspondiam aos relatórios finais de pesquisa do mestrado de museologia; bem como outros projetos que ainda estavam em execução.

Também em função da participação em atividades práticas do fazer educativo do Museu da Vila, já se sabia de oficinas que foram realizadas em momentos específicos, caracterizadas como eventos organizados por parte dos mestrandos da Turma 4, em atividades que correspondiam ao estágio obrigatório, quanto às ações relacionadas à pesquisa de conclusão deste mestrado profissional.

Partindo dos itens que a ficha modelo pedia para o preenchimento, as primeiras informações solicitadas corresponderam ao título e tipo de projeto ou evento e ao título e tipo de ação educativa, adaptável à especificidade de cada ação educativa e cultural.

Os projetos foram identificados como “pesquisa”, e, em algumas fichas, essa informação foi completada no item “outras”, no qual estavam citadas as palavras sustentabilidade, documentação, intervenção artística e intervenção arquitetônica. Vale lembrar que essa complementação surgiu da natureza das intervenções propostas por cada uma das pesquisas.

Os projetos de pesquisa foram classificados, conforme a atuação e os objetivos escolhidos na elaboração e na execução dos mesmos. Procurou-se caracterizar os projetos como um todo, mas de forma sintetizada, destacando que há alguns que não foram organizados diretamente pelo educativo, mas realizados através do diálogo com outras áreas, como aqueles projetos relacionados às ações sociais, à intervenção arquitetônica, à documentação e à economia.

Essas informações ofereceram subsídios para classificar os projetos desenvolvidos. Até o momento do término deste inventário, todos os projetos executados por esse equipamento cultural foram categorizados como sendo de pesquisa, o que se explica por serem relacionados às ações das pesquisas finais dos mestrandos. Por isso, os projetos do âmbito do educativo do Museu da Vila foram esquematizados da seguinte forma (Figura 2):

Figura 2 – Categorização dos projetos educativos do Museu da Vila


Fonte: Sabrina Araujo Castro, maio de 2020.

Em razão dessa categorização, assinalamos as informações a seguir sobre as características relacionadas aos tipos de projetos desenvolvidos pelo educativo do Museu da Vila:

Para melhores esclarecimentos, segue a listagem dos títulos e categorizações dos projetos que foram registrados:

Em contrapartida, muitas das atividades que aconteceram, como as oficinas, por exemplo, que foram incluídas dentro de um evento específico, também estavam relacionadas à execução de projetos de pesquisa. A realização de ações como as oficinas representam, em sua maioria, momentos metodológicos específicos, voltados para a promoção de ações de pesquisa. Isto revela o estabelecimento de relações entre a execução e os planejamentos dos eventos e os projetos de pesquisa.

Sobre os tipos de eventos executados pelo Museu da Vila, as informações registradas revelaram referências à produção artística, à formação cultural e ao desenvolvimento de ações sociais.

As visitações, agendadas e espontâneas, que não estavam relacionadas a um momento cultural ou social específico, foram incluídas também como evento. Considera-se que as visitações, entendidas como evento educativo e cultural, podem ser momentos de diálogos, produções de conhecimentos e expressões de emoções. O esquema seguinte (Figura 3) representa a categorização dos eventos executados pelo educativo do Museu da Vila:

Figura 3 – Categorização dos eventos educativos do Museu da Vila


Fonte: Sabrina Araujo Castro, maio de 2020.

Sobre esta categorização, os eventos foram agrupados de acordo com as especificidades que os aproximavam. A nomenclatura e as características específicas de cada evento foram sendo encontradas aos poucos, através da interpretação da leitura de cada ficha de oficina e de prática de mediação ofertada.

Antes do início do Museu da Vila, a Feira do Patrimônio era realizada por este mestrado profissional, e já haviam sido definidas as denominações do evento de férias, bem como o evento realizado em agosto, pois foram planejados e realizados de forma pioneira no museu, pelos mestrandos da Turma 4. Porém, a identificação das características dos demais eventos só foi evidente em razão da organização e das interpretações das ações educativas e culturais nas fichas de registro.

Assim, dessa forma foram sendo definidas as características específicas que serviram de base para agrupar e definir os tipos de eventos educativos e culturais. As características específicas de cada agrupamento dos eventos ofertados pelo Museu da Vila foram as seguintes:

Até o momento, foram criados e realizados quatro eventos deste tipo. A feira é uma proposta interativa, anual, que trata de temáticas relacionadas ao patrimônio cultural. O evento de férias partiu de atividades livres e da oferta de cursos que foram melhor definidos em 2019. As atividades do mês de agosto foram criadas como continuidade das atividades de férias, com a oferta de mais oficinas ao público local, no intuito de envolver a comunidade no cotidiano do museu. Os cursos livres ocorrem no dia a dia do museu, sem periodicidade definida.

Esta categorização já demonstra a diversidade de eventos que o Museu da Vila tem criado e executado, apesar da jovialidade de sua prática educativa.

De forma geral, em cada um desses eventos foram ofertados aos públicos do Museu da Vila diversas atividades, como: apresentações de trabalho acadêmico, palestras e seminários temáticos, apresentações artísticas, entre outras. Contudo, foram selecionadas para compor a categorização geral destes eventos educativos e culturais, os momentos de rodas de conversas, as oficinas, os cursos e as práticas de mediações, por corresponderem à maioria das atividades nas quais os mestrandos foram os responsáveis pelo planejamento e pela execução.

A totalidade das informações sobre os projetos foi relacionada ao desenvolvimento de pesquisas; enquanto as fichas das demais ações representaram uma diversidade de atuação metodológica, o que provocou uma maior divisão dos itens da categorização e afirmação dos mesmos como eventos. Por isso, as fichas relacionadas aos eventos representam a realização das atividades de rodas de conversa, oficinas, cursos e mediações. Esses eventos foram categorizados da seguinte forma:

Evento de ação social:

Eventos culturais e de formação:

Eventos artísticos e culturais:

Eventos de visitação:

A organização e a categorização das fichas de registro possibilitaram o desenho de um esquema geral sobre as ações educativas e culturais do Museu da Vila que gerou o organograma a seguir (Figura 4):

Figura 4 – Sistematização geral das ações educativas e culturais do Museu da Vila


Fonte: Sabrina Araujo Castro, maio de 2020.

Em síntese, consideramos que os projetos do Museu da Vila incluem-se nos tipos de pesquisas categorizados como documentação; formação; sustentabilidade; e intervenção; e que produzem intervenções audiovisuais, arquitetônicas, pedagógicas e artísticas. Os eventos do Museu da Vila são do tipo artístico e cultural; cultural e de formação; ação social; e visitação; categorizados como curso livre; visitação; cidadania; festival; feira; exposição; e mensal; que realizam atividades de mediação, oficina e roda de memória.

Apesar desse inventário tratar somente de atividades educativas e culturais realizadas de junho de 2018 a janeiro de 2020, observa-se que o Museu da Vila delineia um caráter educativo em sua relação com a comunidade, desenvolvendo uma gama de ações que foram registradas, de forma a representar um acervo institucional voltado para o educativo.

Considerações finais

Os dados inseridos nas fichas de registro desse inventário compartilhado sobre as ações educativas e culturais do Museu da Vila constituíram um catálogo associado a um relatório final de pesquisa que será divulgado nas páginas de meios digitais relacionados ao Mestrado Profissional, Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI/UFDPar).2 Esses dados informacionais foram relevantes para um diagnóstico denso e necessário que subsidiou interpretações e decisões para a elaboração de uma proposta de política educacional.

Foi um trabalho interno no museu, que serviu para organizar dados dispersos, que precisavam ser reunidos e categorizados. Ao pensar sobre o conteúdo de cada uma dessas fichas, são visíveis os dados relativos aos aspectos práticos, conceituais, teóricos e metodológicos das ações educativas e culturais. Nesse sentido, ocorreu um trabalho de documentação para a organização e registro do trabalho educativo do Museu da Vila, e o inventariar aqui descrito gerou uma catalogação a partir do preenchimento das fichas.

A forma como ocorreu a recolha dos dados informacionais confirmou a existência de um trabalho dialógico entre os mestrandos, que foram colaborativos ao compartilhar as suas informações, e também apresentou a situação de que os projetos e os eventos educativos e culturais são planejados e acontecem de forma interligada.

Apesar de no espaço deste artigo não ter sido possível transcrever as informações registradas na íntegra, as estratégias metodológicas aqui descritas revelam que é possível efetuar a documentação de ações educativas e culturais nos museus e equipamentos culturais, com simplicidade e de forma colaborativa. A importância da realização do inventário aqui citado consiste na seleção, partilha, interpretação e organização de informações e dados que poderiam ser perdidos se não fossem registrados. A existência desses dados em meio digital possibilita maiores oportunidades de armazenamento e divulgação de informações, como também permite refletir sobre a prática.

O inventário compartilhado representa a construção de um acervo de fontes de pesquisas, que pode contribuir para a divulgação de informações sobre uma atuação educacional singular, comunitária, que pretende ser cidadã. O compartilhamento de dados inventariados é considerado registro de uma memória coletiva, revelador de um trabalho colaborativo, exemplo de ações educacionais dialógicas e, por isso, considerado patrimônio do próprio museu.

Referências

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______. Ministério da Cultura. Instituto Brasileiro de Museus. Ficha de cadastro das ações educativas do PNEM. 2013. Disponível em: http://pnem.museus.gov.br. Acesso em: ago. 2019.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro; São Paulo: Paz e Terra, 2019.

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VARINE, Hugues de. As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Tradução de Maria de Lourdes Parreiras Horta. Porto Alegre: Medianiz, 2013.

Recebido em 31/1/2021

Aprovado em 14/10/2021


Notas

1     Mais informações sobre o Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI/UFDPar) em https://www.museologiapiaui.com/.



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